Democracia só para inglês ver? Cresce a indignação com o silêncio do Cruesp. Ato significativo reuniu caravanas de várias cidades e cobrou reuniões

Democracia só para inglês ver? Cresce a indignação com o silêncio do Cruesp. Ato significativo reuniu caravanas de várias cidades e cobrou reuniões

A praça em frente à reitoria da Unicamp ficou tomada pelos/as servidores/as e estudantes das três universidades no dia 30/8. A terça-feira, que se iniciou fria pela manhã, foi esquentando na medida em que os/as manifestantes entoavam palavras de ordem para demonstrar a crescente indignação frente ao truculento silêncio do Conselho de Reitores – Cruesp, que segue ignorando os pedidos de reunião do Fórum das Seis.

Várias foram as falas de repúdio à conduta do atual presidente do Cruesp, reitor Tom Zé, que não cumpre o acordado entre as partes há mais de quatro meses – de instalação de um grupo de trabalho, o ‘GT salarial’, para construir propostas de recuperação das perdas e de valorização dos níveis iniciais das carreiras – e se recusa a discutir a Pauta de Reivindicações da data-base 2022, protocolada em 13/4/2022.

Após vários ofícios sem resposta, o reitor Tom Zé finalmente respondeu ao que foi enviado pelo Fórum em 23/8/2022. Para mais indignação da comunidade, no entanto, a resposta teve o objetivo de dizer que nem o reitor nem o chefe de gabinete estariam na Unicamp no dia 30/8 para receber uma comissão de representantes das entidades, devido a compromissos acadêmicos externos. Na Unicamp, quem substitui o/a reitor/a não é o/a Coordenador/a Geral da Universidade (também chamado/a Vice-reitor/a)?

Novo ofício aguarda resposta até 8/9. Fórum prepara nova manifestação

O Fórum das Seis enviou novo ofício ao Cruesp (nº 13/2022), aos cuidados de seu presidente, reitor Tom Zé, datado de 1/9/2022. O documento volta a pleitear o agendamento de reunião para discussão da data-base 2022 e da primeira reunião do GT salarial.

Lembrando que compromissos acadêmicos impediram o presidente do Cruesp de atender à comissão de representantes do Fórum em 30/8 – e que tampouco foram designados representantes para recebê-la – o ofício pleiteia que a primeira reunião de negociação da data-base 2022 seja agendada preferencialmente em data anterior a 20/9/2022.

“Dado o avanço dos meses sem respostas do Cruesp aos nossos pedidos, solicitamos um retorno ao presente ofício até o dia 8/9/2022, uma vez que as entidades representativas que compõem o Fórum das Seis têm reunião marcada para 9/9/2022 e pretendem avaliar vosso retorno”, encerra o texto.

Na reunião em 9/9, as entidades que compõem o Fórum vão considerar a resposta (ou não resposta) do Cruesp e indicar os próximos passos da mobilização.

Categorias querem abertura das negociações

O não agendamento de nenhuma reunião para debate da pauta da data-base 2022 é algo inaceitável na história das negociações entre Fórum e Cruesp.

A postura do Cruesp, ao ignorar as entidades representativas da comunidade, remete aos piores anos da relação entre as partes, em que o autoritarismo e o desrespeito com a comunidade deram o tom. E é contraditória com o compromisso assumido pelos atuais dirigentes – Pasqual Barretti, da Unesp, Carlos Gilberto Carlotti Junior, da USP, e Antonio José de Almeida Meirelles (Tom Zé) – de que estaria se iniciando uma nova etapa nas relações entre as reitorias e as representações das categorias.

É contraditória, ainda, com a adesão e participação dos reitores nas atividades em defesa da democracia e do estado democrático de direito no Brasil, ameaçados por falas golpistas do atual governo federal. Não basta somente falar em democracia; é preciso garanti-la e praticá-la, também, nas relações com as entidades representativas da comunidade.

Cada ofício, um zero? Os paralelos entre 2004 e 2022

Em sua fala durante o ato de 30/8, o coordenador do Fórum das Seis, Paulo Cesar Centoducatte, fez uma comparação entre o momento atual e a data-base de 2004. Naquele ano, foram várias negociações, nas quais o Cruesp “ofereceu” zero de reajuste seis vezes seguidas, mas a disposição de luta e uma forte greve das categorias forçaram o reconhecimento e a reposição das perdas salariais.

Em 2022, após o protocolo da Pauta, devemos considerar cada ofício não respondido por “Tom Zero” (foram 5 até este momento) como um zero. Assim como em 2004, a mobilização e a luta são condições para mudarmos esse cenário!

Presença estudantil no ato fortalece unificação dos segmentos

A participação mais expressiva de representantes estudantis no ato de 30/8 foi saudada com entusiasmo pelos presentes. “Estamos juntos com os servidores docentes e técnico-administrativos para defender suas pautas e sabemos que temos seu apoio na defesa das nossas, especialmente as reivindicações da permanência estudantil”, disse Isabela Úngaro, do DCE Livre da USP. Ela lembrou que a implantação das cotas nas universidades estaduais foi e tem sido um avanço, mas que é preciso garantir a permanência dos estudantes com políticas efetivas de moradia, restaurantes universitários e outros.

“A unificação das nossas lutas é fundamental para a defesa da universidade pública”, reforçou Michele Simões da Silva, do DCE da Unicamp. “O reitor Tom Zé foi eleito sobre a base de um discurso de diálogo, mas estamos vendo como isso é limitado.”

Reposição de perdas, permanência estudantil... Queremos a negociação da pauta 2022!

A Pauta de Reivindicações da data-base 2022, entregue aos reitores em 13/4, contém tópicos importantes para os três segmentos. Entre eles, destaque para a reposição das perdas causadas pela inflação, como mostram os números:

- De maio/2012 a julho/2022, a inflação (Dieese-INPC) soma 86,29%.

- Em igual período, já contabilizando os 20,67% em março/2022, tivemos 53,27% de reajuste.

- Inflação de março a julho/2022 já soma 3,25%.

- Para voltarmos ao poder aquisitivo de maio/2012, precisaríamos de um reajuste de 21,54% em julho/2022. O pagamento apenas parcial da inflação deste período corresponde a 16,5 salários não pagos; como se tivéssemos trabalhado quase um ano e meio de graça!

O retorno às atividades presenciais ampliou a necessidade de debate sobre as reivindicações da permanência estudantil, pautas fundamentais para garantirmos que amplas parcelas continuem estudando.

Queremos dialogar sobre estas pautas! DEFENDER A DEMOCRACIA TAMBÉM É AGENDAR REUNIÃO COM O FÓRUM DAS SEIS!