8 de Março: Dia internacional de luta das mulheres

Comemorações da data ressaltam igualdade ainda distante e necessidade de luta contra confisco de direitos na Previdência

Os números ainda navegam em sentido contrário: em média, as mulheres ganham menos, trabalham em condições menos favoráveis, sofrem mais com o desemprego.

Mas também têm avanços a comemorar. Hoje, ocupam praticamente a metade do mercado de trabalho e não se furtam à luta! O mesmo capitalismo que as explora e faz da discriminação um instrumento de opressãoainda maior, contraditoriamente as agrupa enquanto trabalhadoras, o que lhes traz as condições para se organizarem e lutarem!

A Adunesp coloca-se ao lado das companheiras pela passagem de seu dia e convida professoras e professores a fazerem a leitura do presente texto (em especial o artigo abaixo da Profa. Silvia Adoue), durante esta semana, no início de suas salas de aula, eventos, bancas, reuniões. Esta seria uma importante maneira de destacar essa luta nos nossos ambientes de intervenção. 

O nosso Sindicato seguirá organizando a categoria como um todo, em defesa de melhores salários e condições de vida, por um ensino público, gratuito e de qualidade para todos! E seguirá contribuindo, também, pela igualdade entre homens e mulheres e pela superação de todas as desigualdades e discriminações na sociedade!

Mulher X mercado de trabalho X cargos de chefia
De acordo com pesquisa elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda das mulheres equivale a 76% do que é pago aos homens e elas continuam sem as mesmas oportunidades de assumir cargos de chefia ou direção. Outro problema que ainda penaliza a metade feminina da população é a dupla jornada, que também segue afastando muitas mulheres do mercado de trabalho, apesar de elas serem as principais responsáveis pelo sustento de quatro em cada dez casas. As mulheres dedicam duas vezes mais tempo às atividades domésticas que os homens. Na soma do trabalho externo com o interno, a jornada feminina média é de 55,1 horas semanais, contra 50,5 horas deles.

Estes dados constam no documento “Síntese de Indicadores Sociais - Uma análise das condições de vida da população brasileira” do IBGE, que estudou os indicadores entre os anos de 2005 e 2015.
Outra pesquisa, desta vez feita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com o Instituto Ethos junto às 500 maiores empresas brasileiras, mostra que somente 13,6% dos postos mais altos estão com as mulheres. A situação só não é tão ruim quanto à dos trabalhadores negros (homens e mulheres), que ocupam ínfimos 4,7% dos cargos executivos. No atual ritmo de evolução destas participações nas empresas, segundo BID e Ethos, o equilíbrio no quadro só ocorrerá em pelo menos 150 anos!

Ambas as pesquisas refletem a discriminação de gênero que ainda permeia o mercado de trabalho no Brasil, embora a Constituição Federal seja explícita ao preconizar direitos iguais para homens e mulheres.

No serviço público, formalmente os salários são iguais para homens e mulheres. No entanto, a discriminação ocorre de modo mais sutil. Não raro, eles têm maiores oportunidades de ascensão na carreira, na indicação para postos de confiança etc.

Reforma da Previdência vai agravar situação da mulher
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 298/2016, enviada pelo ilegítimo governo Temer ao Congresso, tende a agravar ainda mais a situação da mulher trabalhadora no Brasil. 

A realidade, como mostram as duas pesquisas acima, ainda impõe a elas uma sobrecarga de trabalho (dentro e fora de casa), salários menores e acesso restrito à ascensão na carreira. Neste quadro, igualar a idade mínima para aposentadoria em 65 anos (idade excessivamente alta nos padrões de vida da população brasileira, diga-se de passagem) implicará no agravamento das condições de vida das trabalhadoras. Somente se justificariam requisitos para aposentadoria iguais entre os gêneros se as obrigações e direitos (em sua totalidade) fossem iguais para ambos os sexos, o que está muito longe de ser alcançado no Brasil. 

8 de Março terá manifestações em todo o país
A campanha salarial nas universidades estaduais paulistas em 2017 tem como pano de fundo a conjuntura geral do país. Neste ano, além das nossas lutas específicas, também temos que engrossar a mobilização da população trabalhadora contra os ataques que sopram de Brasília, como a reforma da Previdência, a mutilação dos direitos previstos na CLT, entre outros.

Neste contexto, temos duas datas nacionais de luta contra estas reformas: 8 e 15 de março. A orientação da Adunesp é que os docentes participem das atividades destes dias, o que servirá também como combustível na mobilização da nossa data-base 2017.

No dia 8 de Março, estão sendo organizadas atividades nacionais e regionais. Procure se informar sobre o que está previsto para sua cidade e participe dentro e fora da universidade! 

O debate destas questões em sala de aula também é um interessante exercício de cidadania a ser feito no dia 8 de março.

Segue abaixo artigo da professora Silvia Beatriz Adoue, do campus de Araraquara, que sugerimos seja divulgado em salas de aula e em todos os eventos públicos onde for possível.

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Artigo

8 de março de 2017 na UNESP

Por Silvia Beatriz Adoue, docente do campus da Unesp de Araraquara

Na próxima quarta-feira, acontecerá o centenário da greve e manifestação de mulheres de São Petersburgo que, no contexto da Grande Guerra que matou dois milhões de soldados, protestavam por paz e pão. Iniciaram o processo de derrubada da autocracia russa, que aconteceu quatro dias depois e que desembocou na Revolução Soviética. A data coincidia com a greve das camiseiras de Nova York, em 1909, conhecida como "Sublevação das 20.000", que durou onze semanas. Se bem o movimento tenha conquistado muitas das suas demandas, em 1911, num incêndio criminoso, 123 trabalhadoras morreram na fábrica. 

Somos hoje testemunhas de grandes mudanças em escala planetária. O capital avança sobre territórios de comunidades que até hoje permaneciam preservados, em particular na América Latina. Eles são terreno para exploração mineral ou agrícola com tecnologias altamente destrutivas, aprofundando a matriz produtiva exportadora de matérias primas. Redes de escoamento de commodities e obras de geração de energia para a extração vêm sendo construídas nos últimos 20 anos. Impõem-se sobre os Estados nacionais novos marcos legais que permitem esses efeitos sobre o ambiente, que desregulam as relações de trabalho e que facilitam a entrada e saída de investimentos. 

A nova configuração planetária integra nossa região para que se especialize em produzir ditos commodities e como reserva de força de trabalho flexível, qualificada ou não, disponível para a migração por períodos de duração tão incerta como a fluidez dos investimentos supõe. 

Os impactos desse novo modelo sobre as mulheres dos nossos territórios são devastadores. O trabalho reprodutivo das mulheres foi historicamente objeto de espoliação, pelo seu caráter gratuito e pela transferência da riqueza na matriz dependente desde a invasão europeia. A reprodução da força de trabalho via estupro das nativas e das mulheres sequestradas da África não foi realizada senão com a administração de uma "economia do terror", margeada por uma longa resistência feminina. Na nova configuração, além de demandar corpos femininos migrantes para acompanhar as atividades produtivas que interessam ao capital, recai sobre as mulheres trabalho gratuito sem limites para manter disponível a força de trabalho flexível, só excepcionalmente empregada. As migrações masculinas de duração incerta para o trabalho produtivo aumentam a intensidade do esforço reprodutivo das mulheres que permanecem no lugar de origem e impulsionam o negócio da exploração sexual de mulheres e crianças nos territórios abertos para o trabalho migrante. 

Tal exploração, de intensidade diferenciada sobre a metade feminina da classe trabalhadora, só pode ser realizada num contexto de aumento de violência sobre os corpos femininos em geral e sobre os corpos femininos que já vinham gerando a força de trabalho excedente própria do capitalismo dependente, em particular: o das mulheres negras e indígenas. Uma nova "economia do terror" se espalha nos nossos territórios sobre os corpos femininos. Ela é necessária para arregimentar a população para a nova configuração. E os agentes são, na maioria dos casos, os trabalhadores flexíveis aos que se lhes permite e incentiva a exercer um poder total sobre as mulheres, proporcionalmente à perda de controle sobre sua própria capacidade produtiva. O corpo das mulheres é a ponta da cadeia de exploração, objeto de disputa de poder. Não é surpreendente que os feminicídios e o suplício dos corpos femininos ou feminizados aconteçam crescentemente em áreas onde o novo modelo vem sendo implantado: os casos das cidades com maquilas, nas fronteiras de migração sub-controladas por milícias que agem fora do marco legal minimamente protetivo. 

O patriarcado, como primeira forma de domínio e opressão da humanidade, foi modelo e matriz para as formas que seguiram. E se reatualiza como condição, dispositivo e substrato necessário para a implantação de outras formas de domínio, opressão e exploração. Nesse nó em que patriarcado, colonialismo, racismo e exploração do trabalho se sustentam mutuamente, é a luta das mulheres que ilumina o complexo. Somos as mulheres que, com nossa luta, revelamos as associações subterrâneas condensadas nesta nova forma de organização planetária do capital e apontamos a emancipação humana que não pode ser realizada em etapas. 
Como docentes e pesquisadoras, propomos convocar nossa crítica reflexiva neste próximo 8 de março de 2017, parando nossa rotina das aulas das nossas disciplinas para debater junto às novas gerações essas relações em que estamos imersos e das quais o espaço da universidade não escapa, e das quais os numerosos casos de violências, assédio e ameaças que testemunhamos são a superfície visível de um caldo que se cozinha em surdina.