Adunesp repudia investidas fascistas do movimento Escola Sem Partido

Houve um tempo em que “O pequeno príncipe”, o clássico infanto-juvenil de Antoine de Saint-Exupéry, foi considerado subversivo em vários países latino-americanos. A teoria de conjuntos chegou a ser retirada da grade curricular de Matemática na Argentina, pois o termo “conjuntos” poderia suscitar interpretações “socialistas”.

São inúmeros os exemplos esdrúxulos como estes, que povoam períodos não muito distantes na nossa história, nos anos 60 e 70, quando as ditaduras militares se implantaram em países como o Brasil e seus vizinhos no continente. No poder, os militares estimulavam pais e alunos a denunciarem professores que praticassem “doutrinação marxista”. 

As ditaduras se foram, mas o retrocesso social e cultural ficou, e ameaça baixar sua mão pesada sobre a sociedade brasileira, agora acrescido de “novidades”, como o combate à chamada “ideologia de gênero”, que estaria “aliciando” crianças e jovens para a “cultura gay”. Estamos falando de um movimento que tem crescido desde suas origens, em 2004, e que hoje tramita em forma de projetos em algumas câmaras municipais, mesmo após ter sido considerado inconstitucional no Congresso Nacional: o Escola Sem Partido.

O retorno de ideias tão retrógradas, que justificaram crimes inomináveis durante as ditaduras latino-americanas, não por acaso floresce na atual conjuntura conservadora que toma conta do país. E é isso que levou os presentes à Plenária Estadual da Adunesp em Araraquara, em 16/4/2018, a manifestarem repúdio e indignação frente às investidas de cunho fascista que o movimento Escola Sem Partido disparou em vários municípios paulistas. Um exemplo é o recente caso ocorrido em Araraquara: houve uma “denúncia” de uma mãe contra uma professora formada pela Unesp local, acatada pela Diretoria de Ensino do Município (!), que estaria ministrando conteúdo “pornográfico” aos seus alunos de nono ano. No caso, a “denúncia” referia-se ao livro Capitães de Areia, do baiano Jorge Amado, escrito em 1937 e leitura exigida em todos os vestibulares do país!

Tais iniciativas retrógradas são incompatíveis com os direitos constitucionais previstos nos incisos II e III, Artigo 206, que estabelecem que deve haver no ensino brasileiro:

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;
III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino.

Os presentes à Plenária Estadual da Adunesp em Araraquara manifestam integral apoio à comunidade unespiana, que prontamente reagiu ao ataque obscurantista e consideram o seu Sindicato solidário à professora, vítima da Diretoria de Ensino que acolheu denúncia, o que, ao fim e ao cabo, tenta culpabilizar a docente por exercer a sua atividade profissional com dignidade e competência.

Araraquara, 16 de abril de 2018.

Clique aqui para conferir manifesto assinado pela comunidade unespiana de Araraquara