Carta aberta aos docentes da Unesp: Sobre a mobilização dos estudantes

Estamos atravessando a maior crise da história da nossa Universidade. Nosso salário tem sido utilizado progressivamente para financiar o custeio da Unesp e, por consequência, estamos submetidos a um processo perverso de empobrecimento e proletarização sem precedentes. Não têm havido contratações de servidores técnico-administrativos nem de docentes em número adequado para manter o pleno funcionamento da nossa instituição, e isto está sobrecarregando de trabalho a todos, deixando muitos de nós no limite do adoecimento.

A reitoria tem acenado com a instalação de cursos e disciplinas ministradas à distância, comprometendo a qualidade das nossas graduações, sem uma política de permanência que contemple a real demanda estudantil, e ameaçando nossos postos de trabalho com esses subterfúgios que constituem um cenário de precarização dos cursos que ministramos e com o rebaixamento da qualidade da nossa atividade educacional e formativa dos estudantes.

Por outro lado, a reitoria sequer é capaz de nos oferecer um horizonte em que honre os 3% concedidos em 2016 para a USP e Unicamp, muito menos de apresentar uma proposta de recomposição salarial ou de um programa de contratação de pessoal que minimize os efeitos imediatos da crise de financiamento que nos atinge. O Cruesp mantém a sua intransigência histórica no processo de negociação da pauta unificada do Fórum das Seis, mesmo depois de apresentada uma contraproposta de reajuste escalonado com base apenas no excesso de arrecadação de ICMS, o que reafirma sua diretriz política de financiar as universidades públicas paulistas com o salário dos seus trabalhadores.

Entendendo que, ao percorrer esta trajetória, chegaremos inexoravelmente a uma mudança significativa no modelo de Universidade que construímos até agora, e que não podemos deixar que isso aconteça, a Assembleia Geral da categoria docente deflagrou uma greve com o objetivo de pressionar as administrações centrais das universidades a estancarem o processo de destruição da dignidade do nosso trabalho, do ethos acadêmico e do compromisso político, social e educacional de todos com uma formação de excelência dos nossos estudantes.

Como todos sabem, mesmo antes da deflagração da greve, a reitoria da Unesp tomou atitudes francamente intimidatórias e arbitráriascontra todos que aderissem à greve, ameaçando cortar o ponto dos servidores que participassem do movimento, o que provocou profunda indignação e, certamente, marcou indelevelmente a atual administração da Unesp com o signo do desrespeito ao direito de greve, explicitando escancaradamente o tipo de tratamento que dá àqueles que ousam se contrapor às suas diretrizes. Assim, rebaixou os Diretores e Chefes de Departamento à condição, repudiada pela maioria, de executores da sanha repressiva da reitoria em nossos campi. 

Não só a Assembleia Geral, mas também as assembleias locais manifestaram a convicção de que somente um movimento conjunto das três categorias – servidores docentes, técnico-administrativos e estudantes – poderia resistir à destruição da nossa Universidade. Todavia, em decorrência da ameaça real de corte de ponto, muitos colegas, já premidos por um salário defasado, optaram por retornar ao trabalho, o que levou a última Assembleia Geral a suspender a greve, mantendo o estado de greve em assembleia permanente. O mesmo aconteceu com os servidores técnico-administrativos, que também recuaram diante da mesma ameaça. No entanto, em vários campi, a comunidade estudantil deflagrou uma greve de resistência pelos mesmos motivos que a nossa e deliberou por diversas estratégias de luta contra o desmonte da Unesp. Diante disso, a diretoria da Adunesp Central conclama os docentes para que dialoguem com o segmento discente, no sentido de buscar alternativas para não sejam punidos pela sua luta em defesa da Universidade, recusando-se a reprimi-los como a reitoria nos reprimiu.

Nenhuma punição para aqueles que lutam pela Universidade pública! 

São Paulo, 19 de junho de 2018.
Diretoria Central da Adunesp