Pandemia, garantia à vida, EAD: NOTA DA ADUNESP SOBRE A CONJUNTURA QUE ENVOLVE A COVID-19 E NOSSA INSTITUIÇÃO

Pandemia, garantia à vida, EAD: NOTA DA ADUNESP SOBRE A CONJUNTURA QUE ENVOLVE A COVID-19 E NOSSA INSTITUIÇÃO

A prioridade absoluta de todas as instituições e autoridades responsáveis nesse momento é a preservação da vida ameaçada pela pandemia do coronavírus. Ainda não temos dados seguros sobre como controlar a pandemia, mas sabemos que o isolamento social é um fator decisivamente importante para diminuir a disseminação do vírus. Por isso, todas as organizações autônomas dos trabalhadores, sindicatos, associações e movimentos sociais têm reivindicado a suspensão de todas as atividades, com exceção daquelas essenciais para a manutenção da vida.

Diante da gravidade da situação, nós, docentes, podemos utilizar as tecnologias de comunicação para reforçar os procedimentos saudáveis e de sobrevivência neste período. Não se trata de cogitar sobre o conteúdo que um estudante deveria estar aprendendo neste momento de pandemia para salvar o semestre, mas para salvar a sua vida e contribuir para a preservação da vida dos outros seres humanos.

Neste momento, existem famílias - não só de estudantes - que não poderão se sustentar e, possivelmente, tenham ou venham a ter parentes em risco de morte que precisam ser cuidados. Portanto, reafirmamos que a preocupação com a preservação da vida deve ser o nosso foco imediato e mediato.

No entanto, algumas iniciativas da Reitoria da Unesp parecem indicar que ela está tão preocupada com a regularidade do semestre letivo, que tem se descuidado da questão essencial. Um dos sinais deste descuido é a tentativa, sub-reptícia, de implementação maciça do ensino à distância (EAD) na Unesp, em meio à pandemia.

Senão, vejamos.

Em documento publicado em 19/03/2020 pela Prograd, intitulado “Esclarecimentos da Prograd sobre suspensão das aulas presenciais”, em alguns trechos há afirmações do seguinte teor:

“Não se trata de substituição de disciplinas presenciais por disciplinas totalmente a distância, nem de alteração de sua natureza presencial.”

Porém, há também trechos em que é solicitado que as Unidades mantenham “a infraestrutura mínima para que os estudantes que não tenham possibilidade de acesso à Internet em sua residência poderem fazê-lo a partir da sede de seu curso, obviamente cumprindo todas as determinações de preparação para o ambiente de trabalho já encaminhadas pelo Comitê Unesp Covid-19”. Também, conforme o documento, são disponibilizadas ferramentas e “todas as videoaulas que estão no canal do Youtube”, bem como a “lista das disciplinas da Univesp (quase 300) cujo conteúdo pode ser aproveitado”, acompanhado da ressalva de que “não se trata, no entanto, de efetuar a matrícula dos estudantes da Unesp na Univesp, mas da consideração do seu conteúdo dentro da estrutura das disciplinas da Unesp”.

Assim, a Reitoria, por meio da Prograd, se empenha em estabelecer processos de pressão – devidamente travestidos de apoio – para que docentes experimentem, e usem, protocolos típicos de EAD, pavimentando, assim, o caminho para a consolidação do oferecimento generalizado de cursos de formação inicial por esse meio.

Há, também, um outro aspecto importante que merece destaque, diante do que entendemos ser esta uma proposta oportunista de ação da Reitoria/Progradpara impor à comunidade o seu projeto de EAD. Há que se considerar que parte expressiva dos/as nossos/as estudantes é oriunda de famílias em situação de vulnerabilidade socioeconômica – agravada pela pandemia – que não dispõem de condições adequadas para participar de um processo que requeira certos tipos de equipamentos eletrônicos, e que precisam, sobretudo, de acolhimento e solidariedade ativa nessa hora difícil para todos nós. Exigir que, justamente esses/as estudantes, se desloquem até os campi para poderem acessar um local onde serão disponibilizados os equipamentos para as interações à distância, é submetê-los, mais do que aos/as outros/as, a riscos de contaminação pelo coronavírus. Isto colide frontalmente com as diretrizes do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde do estado de São Paulo, que recomendam que todas as pessoas que puderem permaneçam em suas residências para evitar o contágio com o coronavírus. Colide também com o espírito de solidariedade e justiça, e com o objetivo maior de preservação da vida.

Insistir nestas orientações e condutas é uma demonstração de descompromisso da Reitoria da Unesp não só com a educação pública de qualidade, mas também com a nossa Universidade, com a vida dos servidores docentes, técnico-administrativos, trabalhadores terceirizados e estudantes.

A Adunesp expressa seu protesto público diante dessa situação e lamenta que a preocupação com o fechamento do semestre se materialize como tentativa de implementação de EAD, e que ambas obnubilem o comprometimento da Reitoria com o direito à vida.

Diante destes fatos e considerações, a Adunesp reivindica que estas medidas sejam imediatamente revistas.