Perdeu a live sobre ‘Pandemia & universidade’? Assista a gravação

Perdeu a live sobre ‘Pandemia & universidade’? Assista a gravação

Se você não teve a oportunidade de assistir a live promovida pela Adunesp em 5/6 – ‘Pandemia e Universidades Públicas: Educação, ensino e condições de trabalho’ – já pode conferir a gravação.

A Adunesp fez uma edição simples do debate e a disponibilizou no Youtube, pelo link https://youtu.be/7CKjN2vp5EY 

A live contoucom a presença dos professores Luiz Carlos de Freitas e Lalo Watanabe Minto, ambos da Faculdade de Educação da Unicamp, e do presidente da Adunesp, João da Costa Chaves Júnior.

Temporalidades distintas

Para propor elementos a um debate mais amplo sobre o tema, o professor Lalo Minto citou dois autores: o sociólogo Florestan Fernandes – em “Universidade brasileira: Reforma ou revolução?” – e o filósofo húngaro IstvánMészáros, em “Desafio e o fardo do tempo histórico”.

Ele avalia que, embora o momento da crise sanitária seja de urgência e nos traga um conjunto de situações inusitadas, o principal desafio agora não está na transição do ensino presencial para o remoto. A grande questãodeve ser como a universidade, especialmente a pública, pode contribuir com respostas à pandemia dentro de sua função primordial, calcada no tripé ensino, pesquisa e extensão. E isso, pontua o docente, é um debate que necessariamente precisa de uma participação ampla da comunidade universitária.

Diante da afirmação feita no início da pandemia, por algumas reitorias, de que “as universidades não podem parar”, o professor Minto considera necessário responder a uma questão central: “Quais interesses devem ser atendidos primeiro?”

Se o que não pode parar é a produtividade de curto prazo, o controle e a padronização, estamos diante de uma resposta equivocada, opina Minto. Ele cita como exemplo a ideia de que o calendário escolaré “coisa sagrada” e que tudo pode ser feito, desde que ele seja cumprido. Para o palestrante, as respostas à pandemia, por parte da universidade, precisam ir além disso. “Há muitas pessoas competentes nos cursos, nas mais variadas áreas, que podem contribuir diretamente com soluções para esta crise, mas poucas são aproveitadas, pois parece que estamos sempre em busca das questões imediatas.”

Pandemia e meritocracia

Para o professor Luiz Carlos de Freitas, já faz tempo que a universidade reproduz o pensamento dominante na sociedade, que é o de enfatizar o indivíduo ea geocultura meritocrática. Trata-se do “neoliberalismo meritocrático”, que passou a prevalecer após a crise do capitalismo nos anos 70, pondo fim progressivamente ao estado de bem-estar social até então vigente. “Diante da crise, as classes médias e as elites passaram a cuidar de si mesmas, mas tiveram seus dilemas acalmados pela falsa ideia de que a desigualdade não é um fenômeno social, mas sim a consequência natural dos méritos de cada um”, explica. Agora, a pandemia agrava a lógica individualista, de organização da sociedade como uma estrutura de poder para quem tem mais mérito. “Assim, se muitos vão morrer, é algo que passa a ser visto como natural, coisa da vida.”

Transpondo o debate para a educação, Freitas vê o risco de aprofundamento das desigualdades.

O presidente da Adunesp, João Chaves, contribuiu com o debate, destacando que, no caso da Unesp, vemos uma “idolatria” do calendário escolar, o que certamente ampliará a desigualdade, como no caso dos estudantes que ascenderam à universidade via cotas. “O que vamos fazer com esses estudantes? A Unesp vai deixá-los para trás? A vida deles não importa?”

Caminhos em meio à pandemia

O que fazer neste momento, frente às surpresas trazidas pela pandemia ao cotidiano universitário?

Chaves propõe que seja feito um debate profundo e democrático com a comunidade acadêmica, para que se estabeleça um caminho para a construção de soluções das questões concretas postas pelo Covid-19.

Freitas defende soluções que não sejam padronizadas, mas pensadas localmente. “A pandemia afeta de modo diferente as regiões, as instituições”, justifica. Para ele, qualquer ação de ensino remoto – “o que resta neste momento” – não deve contar como dia letivo. “Podemos e devemos contatar os estudantes para oferecer alternativas de leitura, fazer lives, até mesmo para se inteirar da realidade dos estudantes e de suas famílias em meio a esta crise, mas nada disso pode contar como dia letivo, para não aprofundarmos as desigualdades”.

Freitas ressalta que a educação é uma relação que só se concretiza presencialmente e que nem a melhor EAD pode suprir isso. “A figura do professor é fundamental e a relação faz com que entre em cena não só a instrução, mas a formação da juventude”,

O professor Minto frisa que não se trata de negar o papel da tecnologia. “Antes da tecnologia, vem o debate do projeto que temos para a educação pública, de formação e não de mera transferência de conhecimento. Esse projeto deve estar voltado para o desenvolvimento crítico, para a autonomia e o incentivo à pesquisa e ao conhecimento. A tecnologia deve estar a serviço do projeto e não o contrário.”

Acesse a íntegra do debate em: https://youtu.be/7CKjN2vp5EY