Recuo do governo no artigo 14 resulta de pressão da comunidade, mas não basta! Luta pela rejeição do PL 529 continua

Recuo do governo no artigo 14 resulta de pressão da comunidade, mas não basta! Luta pela rejeição do PL 529 continua

Matéria divulgada no Portal G1 e na GloboNews, em 4/9/2020, informa a intenção do governo Doria de promover mudanças no teor do artigo 14 do projeto de lei (PL) 529/2020, que traz um grande pacote de maldades contra os serviços públicos do estado: extinção de institutos e outros órgãos, venda de enorme área pública, aumento da contribuição do Iamspe, entre outros. No caso do artigo 14, o projeto prevê a retenção, pelo tesouro estadual, das “receitas de superávit financeiro de fundos e entidades”, entre eles as universidades e a Fapesp, alcançando “os saldos apurados no balanço de encerramento do exercício de 2019 e seguintes”.

A disposição de alterar o artigo 14, que gerou muitas manifestações de repúdio de dentro e de fora da comunidade acadêmica e científica, foi anunciada pelo deputado estadual Carlão Pignatari (PSDB), líder do governo na Alesp. Segundo ele, a parte “e seguintes” seria extinta, restando “apenas” a retenção dos valores de 2019. A mudança pode constar no relatório final sobre o projeto, que deve ficar pronto até o meio deste mês. A expectativa do governo é votar o projeto em plenário até o final de setembro.

Reunião com Cruesp

A intenção do governo de mexer no artigo 14 havia sido exposta ao Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) no dia 26/8, em reunião com o vice-governador Rodrigo Garcia, com a presença dos secretários Mauro Ricardo Costa (Projetos, Orçamento e Gestão), e Patrícia Ellen (Desenvolvimento Econômico).

Na oportunidade, Garcia informou a possibilidade de enviar um aditivo à Alesp propondo a exclusão das universidades públicas estaduais do artigo 14, mas também a criação de um artigo específico nas Disposições Transitórias do projeto, prevendo a retenção do “superávit financeiro” registrado em 2019, a ser deduzido em duodécimos no exercício de 2021. 

Em reunião com o Fórum das Seis, em 1/9, os reitores relataram o teor da reunião. “Achamos boa a ideia do aditivo, mas não concordamos com a segunda parte”, disse Sandro Valentini, reitor da Unesp e atual presidente do Cruesp.

Após a veiculação da matéria pelo Portal G1 e GloboNews, o Cruesp emitiu nota dizendo que, “apesar de as mudanças anunciadas pelo líder do governo na Assembleia Legislativa de São Paulo representarem um relativo avanço, (...) considera que prever a transferência dos superávits dessas instituições referentes ao ano de 2019 segue sendo uma afronta aos princípios da autonomia universitária em vigor há três décadas”.

Projeto é bomba contra a população

Na reunião de 1/9, os representantes do Fórum das Seis ressaltaram a necessidade de um reposicionamento público do Cruesp sobre o PL 529, não apenas defendendo mudanças no artigo 14, mas postulando a rejeição do projeto como um todo. O projeto do governador se constitui numa ampla reforma do estado, com extinção de órgãos, venda de patrimônio público, confisco de dinheiro da educação e aumento da contribuição ao Iamspe, medida que deve impactar mais duramente os servidores com menores salários.

“Deixar passar o projeto agora, ainda que preservando as universidades neste momento, é abrir espaço para ataques futuros ainda mais sérios, pois o objetivo maior deste governo é de enxugamento brutal do estado e dos serviços público”, enfatizou aos reitores o coordenador do Fórum, Paulo Cesar Centoducatte, da Adunicamp.

Queremos a retirada integral do projeto

A principal alegação do governo Doria para a aprovação do PL n° 529/20 é a projeção de um déficit de R$ 10,4 bilhões nas contas do estado de São Paulo em 2021. Esse mesmo governo concedeu em 2019 mais de R$ 23 bilhões em renúncias fiscais a diversos setores da economia paulista, principalmente a grupos empresariais. Além disso, a dívida ativa do estado é superior a R$ 300 bilhões. Assim, se de fato fosse esse o problema, para solucioná-lo bastaria o governo reduzir as renúncias fiscais que patrocina (por exemplo, impedindo que inscritos na dívida ativa do estado se beneficiem delas) e que vêm sendo ampliadas ano a ano e/ou ter mais empenho na cobrança da dívida ativa.

A pretexto de resolver uma crise transitória, o governo Doria tenta impor mudanças de caráter definitivo, que pouco ou nada têm a ver com o déficit alegado. Todos os órgãos ameaçados de extinção são relevantes socialmente e muitos deles, inclusive, são superavitários. Vários estão ligados diretamente aos serviços públicos de saúde e de defesa do meio ambiente, como é o caso da Fundação para o Remédio Popular (FURP), a Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), a Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), o Instituto de Medicina Social e de Criminologia (IMESC) e o Instituto Florestal (IF). O fim destes órgãos traria enorme prejuízo ao conjunto da população.

Atividades da Frente

As entidades que compõem o Fórum das Seis participaram de mais uma reunião da Frente Paulista em Defesa do Serviço Público na terça-feira, 8/9, que aprovou novas iniciativas de luta contra o PL 529:

- Dia 9/9, quarta, das 14 às 16h: Tuitaçocom a hashtag #NãoAoPL529

- Dia 16/9: Ato na Alesp, com carreata e abordagem dos deputados (mais detalhes em breve).

- Nova reunião da Frente em 14/9, 10h.

- Nova reunião do Fórum das Seis em 14/9, 16h.

Busca de apoio junto a deputado(a)s e Câmaras de Vereadores

A reunião da Frente também indicou a continuidade de algumas atividades de pressão sobre o(a)s deputado(a)s estaduais, prefeituras e câmaras de vereadores. No caso destes últimos, a proposta é solicitar que emitam moções contrárias ao PL n° 529/20.

Quanto às/aos deputadas/os, o indicativo é de envio de e-mails (acesse a lista aqui), cobrando que rejeitem o PL n° 529/20 e defenda o serviço público paulista.