Reunião com o presidente do Cruesp decepciona e reforça contradições do discurso em prol da democracia. O que dizem os outros reitores? 

Reunião com o presidente do Cruesp decepciona e reforça contradições do discurso em prol da democracia. O que dizem os outros reitores? 

Fórum das Seis aguarda retorno sobre agendamento de nova reunião ainda este ano

“Discussão ou negociação entre duas ou mais partes, geralmente com vista a um acordo". 

A definição de diálogo nos dicionários da língua portuguesa esteve longe de se concretizar na reunião entre as entidades representativas que compõem o Fórum das Seis e o reitor da Unicamp e atual presidente do Cruesp, professor Antonio José de Almeida Meirelles, Tom Zé, na tarde de 18/10.

Realizada após um novo ato da comunidade acadêmica em frente a reitoria da Unicamp (que você confere mais abaixo), a reunião foi decepcionante. A expectativa das entidades, de retomada do diálogo democrático entre as partes, congelado" por mais de seis meses sem respostas desde a última negociação em março deste ano, foi frustrada.

Falando em nome das entidades, a presidenta da Adusp e atual coordenadora do Fórum das Seis, Michele Schultz, frisou que defender democracia e educação também é negociar com as entidades representativas as pautas e os direitos de trabalhadores e estudantes"

Enfatizando a todo momento estar expressando suas opiniões próprias, o reitor da Unicamp disse que considerava a data-base de 2022 encerrada desde março – o que é curioso, pois não houve uma reunião sequer para discussão da Pauta Unificada 2022, protocolada em 13/4. Alegando preocupações com a autonomia e o dever do Cruesp em dar respostas à “sociedade”, sem apresentar elementos concretos, afirmou que não via necessidade de novas reuniões ainda este ano, apontando para janeiro de 2023 a possibilidade de que isso ocorra. 

E o que dizem os outros dois reitores, os professores Pasqual Barretti, da Unesp, e Carlos Gilberto Carlotti Júnior, da USP? Até o momento, nada! Não estavam presentes na reunião e, ao que parece, endossam a postura do atual presidente do Cruesp, autocrática, unilateral e contrastante com as defesas públicas em favor da democracia.

Acompanhado de membros da reitoria da Unicamp – Maria Luiza Moretti, Coordenadora Geral da Universidade; Paulo Cesar Montagner, chefe de Gabinete; João Marcos Romano, pró-reitor de Pesquisa; e Fernando Sarti, pró-reitor de Desenvolvimento Universitário – o reitor da Unicamp esquivou-se de explicar o porquê do Cruesp não ter honrado o compromisso assumido com o Fórum das Seis na negociação de 17/3/2022, de que  retomaria as reuniões do GT Salarial em breve, no máximo em três semanas", para debater conjuntamente propostas de recuperação de perdas salariais históricas e de valorização dos níveis iniciais das carreiras’. 

Após várias falas dos/as representantes das entidades, que defenderam a necessidade de estabelecer um calendário de reuniões, não só para dialogar sobre as pautas da comunidade, mas também sobre os impactos do cenário eleitoral para as universidades, o reitor da Unicamp encarregou o professor Montagner de consultar os demais membros do Cruesp sobre a possibilidade de nova reunião ainda este ano. O chefe de Gabinete comprometeu-se a dar retorno sobre isso até o final de outubro.

Fórum elaborou cenários. Reposição de perdas históricas manteria comprometimento com folha ainda baixo 

Diferentemente do Cruesp, que não honrou o compromisso de iniciar as reuniões do GT Salarial e apresentar dados e subsídios para a construção de cenários e propostas de reposição de perdas históricas e de valorização dos níveis iniciais das carreiras, o Fórum das Seis elaborou estudos neste sentido.

Em relação às perdas históricas, tomando por base a arrecadação do ICMS e respectivos repasses às universidades em agosto/2022 – portanto, a partir de uma base conservadora, sem levar em conta o crescimento previsto para o segundo semestre – os estudos do Fórum apontam que, mesmo repondo a inflação não paga desde maio/2012, o comprometimento com folha salarial seguirá baixo na USP, Unesp e Unicamp. Segundo os cálculos do Fórum, o poder aquisitivo do salário de agosto/2022, recebido em setembro/2022, é de 82,56% em relação ao de maio/2012. Para recompor esta perda e voltarmos ao poder de compra de maio/2012, seria necessário um reajuste em torno de 21% em agosto/2022. Portanto, em cerca de 10 anos, deixamos de receber o equivalente a 17 salários.

A seguir, veja como ficaria o comprometimento das universidades com folha salarial no caso de reposição destas perdas em três cenários. É importante ressaltar que, em qualquer um destes cenários, o comprometimento seguiria aquém dos 85%, parâmetro tido como ‘aceitável’ pelo Cruesp. Importante também destacar que não se trata de aumento de salários, mas tão somente de reposição de perdas salariais causadas pelo não pagamento integral da inflação do período.201022a0

Como defender as universidades? 

Os/as representantes do Fórum das Seis enfatizaram na reunião a relevância do diálogo democrático entre as administrações universitárias e a comunidade acadêmica, para além de notas e artigos em jornais, como forma de defender as universidades estaduais paulistas contra as ameaças e ataques à educação pública, presentes nos discursos de candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais e ao governo paulista.

Para o Fórum das Seis, o diálogo democrático e a valorização dos/as trabalhadores e dos/as estudantes são elementos essenciais na luta contra os retrocessos, em defesa da autonomia e da educação pública como direito de todas e todos. 

Cobrança e manutenção da mobilização 

O Fórum das Seis já enviou ofício ao Cruesp – nº 18, de 19/10/2022 – enfatizando o compromisso de retorno, até o final de outubro, à solicitação de calendário de reuniões ainda este ano – e sugerindo que a primeira delas ocorra já no dia 1º/11.

A comunidade deve manter-se atenta às informações e aos indicativos de mobilização.

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